segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Peter Jackson e as analogias escatológicas da sua trilogia Trash

Peter Jackson ainda era um prodígio antes de entrar para o hall do cinema norte-americano, no inicio de sua carreira ainda na nova Zelândia exercia com amadorismo porem com muito talento os indícios de que seria um cineasta de muita originalidade. Entre os intervalos da faculdade com seu grupo de amigos aproveitava o tempo com uma câmera a filmar suas idéias e nessa brincadeira saíram filmes como o hilário Nauseá total (Bad taste -1987) apesar de seu lançamento indicar o ano de 1987, esse filme foi iniciado em 1981, com o intuito apenas do divertimento e o roteiro era trabalho a partir das idéias que eles tinham no dia da gravação, onde mostram um extravagante grupo governamental investigando a presença de alienígenas no planeta Terra, e tinham que resolver o mistério de cidades que ficavam desertas sem nenhuma explicação, pessoas desapareciam a todo momento. Até aí tudo bem, não fossem os visitantes esquisitos (quando não estão disfarçados de humanos) e perigosos, usando os cérebros humanos como guloseimas – não é pra menos que a intenção dos seres de outro mundo é conseguir matéria prima para uma rede de fast-food intergaláctico. A ironia nesse filme, via-se na ação dos próprios aliens, o desejo de buscarem no cérebro humano matéria prima para seu planeta, remetia na metáfora da superioridade da raça de outro mundo, sendo assim a fonte de inteligência humana seria um mero tempero em seus fast-food. O paradoxo trabalhado ao longo do filme é que os seres humanos vencem a guerra contra esses seres “superiores”. O que se via nesse clássico do cinema trash/terror era que o roteiro praticamente não existia, a narrativa é básica e sem preocupação com a argumentação, o que se via bastante eram decapitações, sangue, sustos e muito canibalismo.
 Esse tipo de filme geralmente aborda a temática da escatologia tenta ironizar as formas de “fim do mundo” através da comicidade, carnificina e muita podridão, mas existem outros trabalhos que fundamentam outras temática, feitos até mesmo por esse grupo neo-zelandês e novamente regidos por Peter Jackson, dessa vez a idéia de trabalhar com pouco recurso e muito talento ainda é o foco principal, mas o grupo resolve inovar no estilo gore de cinema, a idéia agora na falta de atores pro elenco a solução foi a utilização de bonecos e o resultado é algo que faz rir, Meet the Feebles (1989) choca e até mesmo impressiona, os exageros desse trabalho são comentados principalmente pela fotografia, troca de planos, cenários de brinquedo e muita criatividade o filme fixa em Heidi, a Hipopótamo estrela do show de variedades Meet The Feebles, descobre que seu marido e companheiro de espetáculo Bletch, a Morsa, a está traindo. Mas ela sabe que é preciso lidar com seus próprios problemas e não pode desistir da apresentação. Um musical que trata de abuso de drogas, assalto, AIDS e até assassinato. Mas enquanto o show acontece, o perturbado Trevor, o Rato, quer ameaçar de uma vez por todas o amor entre as estrelas. É que ele está interessado em conquistar Heidi. O que se percebe nesse filme apesar o caráter trash o que ele tem de diferencial é a exploração sarcástica sobre temas como diferenciados, Todos os "Feebles" tem seus próprios dramas pessoais, cada um mais negro e bizarro que o outro, enquanto se preparam para a apresentação de um musical.
Analisar esse filme se torna complicado, perceber cada analogia e metáfora critica contida em cada personagem, é uma missão árdua, cada minuto tem uma atrocidade ou mais, desde um coelho com AIDS vomitando quatro vezes o volume do seu corpo em líquido, á várias cenas de sexo envolvendo um esquilo e uma morsa. O que dá pra perceber também é que Jackson mostra uma visão adulta, escrachada, e doentia sobre os Muppets e quaisquer outros animais antropomórficos. Onde ele ridiculariza os clichês dos dramas pessoais que envolvem o "showbiz", de sexo e traição à drogas e violência. Isso é evidenciado na característica de cada personagem. Wynyard é um jacaré veterano da guerra do Vietnã que é viciado em todos os tipos de droga, da cafeína ao LSD e cocaína, no filme o uso excessivo de drogas por parte do personagem é explicado pela agonia de ser viciado em algo, no caso ele era viciado, na adrenalina da guerra e desde que retornou, tenta resgatar isso.
Na integra essa película consegue chegar com maestria ao seu objetivo, sem recursos, filmando com uma só câmera, – assim como Bad Taste- com fotografia defasada, aqui a proposta é uma diversão escapista, maluca, muito nojenta e divertida.
No terceiro filme da trilogia trash de Peter Jackson a exploração é bem diferente dos dois primeiros; tem uma produção mais bem caprichada além de mais recursos tanto de fotografia quanto de efeitos, mas não perde a essência gore em nenhum momento, nesse trabalho em questão o diretor trata de uma historia um pouco mais dentro dos padrões desse cinema o filme começa com caçadores em uma floresta na áfrica, trazendo consigo o animal exótico batizado de “macaco ratazana de Sumatra” criatura essa que ficaria exposta num zoológico, onde se inicia o desenrolar da historia.
O personagem Lionel é o tópico herói de filmes de comédia, tímido e mora com uma tia velha e rabugenta, personagem essa que delimita o princípio da ação determinante ao ser mordida pelo animal estranho, onde começa a desenvolver uma doença que lhe dá características de zumbi, assim desencadeando um vírus que atingirá a população para alem de sua residência. Nesse novo filme não enxergamos metáforas tão discutíveis como nos outros dois trabalhos e de certa forma, isso é proposital, as analogias empregadas nesse novo cenário são mensagens extremamente sublimares a temática geral do filme, a escatologia explorada na película em questão é  noção de distopia, nesse caso sobre vírus, quase 20 anos antes dos grandes blockbusters hollywoodianos de zumbis, Jackson já explorava esse estilo de fim do mundo com maestria, nesse caso a ironia funciona como forma de humor negro, a sátira do fim do mundo.
Novamente os argumentos são falhos, mas sem tanta importância, o roteiro é mais bem trabalhado, mas nada que impeça a carnificina, os sustos e os inúmeros litros de sangue usados no filme.